sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Carta da Dona Gilda - Livro Estrelas Tortas de Walcyr Carrasco

Querida Lívia,

Estou há muito tempo querendo lhe - escrever, não estive com tempo, pois estou na casa de minha filha Aída, de seu marido Bruno, e meus netos Marcella (uma garota maravilhosa, jogadora de vôlei, e futura modelo) e Guilherme, em São Paulo.
Quer saber como parei aqui?
Então vou te contar:
Há alguns meses atrás estive doente, Aída e Marcella foram me visitar.
Ai a coisa mais terrível aconteceu, um caminhão bateu no carro delas, pelo azar de minha neta, ela estava sem cinto naquele momento e na hora do acidente foi arremessada do carro e bateu no asfalto.
Quando soube da notícia parti para São Paulo.
Elas estavam no hospital, o médico disse que minha filha estava bem, só com os braços “machucados”, já minha neta tive uma noticia que apertou meu coração, ela nunca mais andaria.
A família ficou muito chateada, quando Marcella recebeu alta só ficava em casa, triste, olhando o dia todo pro “alem”, às vezes alguém vinha visitar, como Aída e Bruno trabalhavam o dia inteiro, eu e Gui cuidávamos dela, Gui parecia não gostar, afinal não saía para brincar ou passear, só ia ao colégio por conta de Marcella.
Alguns tempos depois, uma amiga não muito desejada por Marcella veio vista-la, seu nome era Mariana, uma garota bem simpática que sempre trazia livros pra Marcella, ela nunca lia, nem o titulo só colocava em seu criado-mudo, Marcella nunca foi de ler, amiga, isso também me deixa bastante chateada, depois de muitas visitas de Mariana, (e muitos livros em sua prateleira) um garoto bem bonito, de quem Marcella era afim, veio visitá-la, seu nome era Bira, ele trouxe flores, eu o achei bem legal.
Mais ai que eu me engano, ele nunca mais voltou e Marcella só perguntava dele e nada, ficou mais chateada ainda.
Um grande dia aconteceu, Marcella abriu uma pagina de um de vários livros dados por Mariana, parece que Marcella começou a gostar de ler, eu estava certa, todo dia ela lia seus novos e novos livros.
Bruno e Aída não paravam em casa, trabalhavam mais para conseguir dinheiro, com o acidente, eles gastaram muito dinheiro e precisavam economizar para uma cadeira de rodas para Marcella.
Até que um dia a sagrada cadeira de rodas chegou, Marcella começou a voltar às aulas.
Um dia ela viu o Bira com outra menina, ela ficou bem triste.
Foi ai que chegou o dia do baile da escola, Gui e Macella brigaram com Aída para irem e conseguiram.
Adivinha quem fez o vestido dela?
Eu!
Ela foi muito linda, como uma princesa, lá um garoto começou a conversar com ela, Emilio, ele não sabia que Marcella era cadeirante.
Ele a chamou pra dançar, ela não contou a ele, só negou, ele a puxou e ela caiu, fazendo todo mundo olhar.
Ela saiu chorando, Mariana e Gui a trouxeram de volta, para minha surpresa, suas lagrimas transformaram em alegria, eles vieram cantando.
Daí para frente Marcella perdoou Emilio e eles começaram a sair, e Mariana com Raul, primo de Emilio.
Os pais de Marcella, quando ficaram sabendo a proibiram de sair com ele.
Eu como queria vê-la feliz comecei a convidar seus amigos lá pra sua casa, enquanto Bruno e Aída estavam trabalhando, pois eles não deixavam.
Todos os dias eles viam e ficavam na garagem tocando instrumentos e Marcella treinava seus exercícios que aprendeu na fisioterapia que fazia com barras.
Acabou que cada dia um amigo a levava para a fisioterapia.
Até que um dia Bruno chegou mais cedo, e a fofoqueira da vizinha foi reclamar que havia uma banda com musica alta todo dia na nossa garagem.
Marcella e Bruno brigaram e eu expliquei a historia.
Marcella soltou tudo que queria dizer, que queria ser uma menina normal.
Depois de se entenderem (e brigarem comigo por ter feito isso) eu abri a janela, e a luz entrou, foi como se fosse se eu tivesse trago vida pra aquele lugar, todos olharam maravilhados, esses dias para frente foram bem emocionantes.
Então é isso Lívia, espero que responda a carta, obrigado por me ouvir.
Beijos de sua amiga,
 Gilda

Nenhum comentário:

Postar um comentário